Olá. Hoje conheci o FIC fuçando na internet, juntamente com a polêmica de 1968 e gostaria de compartilhar com vocês esse acontecimento da terceira edição do festival que entrou para a história da MPB por conta do tema de protestos ao regime militar da época.
Primeiramente, o que éra o FIC?
Em 1968, Sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque de Hollanda, interpretada por Cynara e Cybele(dupla do Quarteto em Cy) foi a vencedora, apesar das vaias do público de quase 20 mil pessoas que preferia a música de Geralde Vandré, Para Não Dizer que Não Falei de Flores, evidenciada como hino contra a repressão política da época, ficando em segundo lugar.
Primeiro ouça o áudio no momento em que foi anunciado a classificação de Vandré(segundo lugar):
Agora quando a dupla vencedora Cynara e Cybele é chamada para se apresentar
As vaias aqui são intensas, as intérpretes mal conseguem cantar.
Clique aqui para ver o discurso completo por escrito
Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.
Chega!
Chega!
Em 2018 Cynara Faria deu um entrevista para a ÉPOCA e disse que ficou revoltada com as vaias, porque era louca pela música e acreditava que Chico Buarque e Tom Jobim não mareciam.
Eu gostaria de compartilhar aqui minha opinião
Sabiá merecia mesmo tantas vaias? A caracteristica mais marcante do FIC era de que os artistas, por mais difícil de acreditar, não tinham o foco em ganhar, mas sim de ter a oportunidade de expressar suas ideologias.
Primeiro, Caetano foi vaiado por ter sido muito extravagante. A banda mal começou a tocar e a platéia já atirava ovos, tomates e pedaços de madeira contra o palco. Com a intenção desde o inicio de provocar, Caetano entra em cena vestido com roupas de plástico brilhante e colares exóticos, rebolando, fazendo uma dança que simulava os movimentos de uma relação sexual. A plateia ficou escandalizada e deu as costas para o palco, consequentemente, os mutantes sem parar de tocar também deram as costas para o público. Gil foi atingido na perna por um pedaço de madeira, mas não parou, ainda mordeu um dos tomates e devolveu o resto jogando na platéia. As vaias eram contra as guitarras, que no imaginário da época maculavam a verdadeira MPB.
Segundo, a platéia julgou a música Sabiá como fraca e que não merecia o primeiro lugar. Você sabia que a música Sabiá é mais nacionalista do que parece? Ela faz referencia ao grande poema "Canção do exilio" de Gonlçaves Dias escrita em 1843, sacada de mestre, não? Mostrar em uma canção o que sente pela nação e trazer um conteúdo tão profundo e antigo da mesma? Pois é, o mesmo público que ficou irado com Caetano e sua banda por usarem guitarras e não "valorizarem" a forma de fazer MPB, foi o público que não soube intertextualizar uma canção e valorizá-la, também foi o público que lutava por liberdade e não soube respeitar e entender a maneira de se expressar de um artista. Ainda na entrevista da Cynara que falei anteriomente, a mesma diz que ficou feliz porque no final alguém soltou um Sabiá, expressando a liberdade que era buscada na época.
Não estou aqui para dizer que uma música é melhor que a outra, até porque também gosto da música de Vandré, é realmente bem envolvente. Mas estou aqui para tentar fazer algumas pessoas pensarem melhor.
Eu acredito que o que aconteceu antes é o que acontece muito hoje, as pessoas estão tão preocupadas em lutar por algo, em mostrar que sabe de algo, que tem opinião, QUE DEVE FALAR, QUE DEVE FAZER, QUE TODO MUNDO PRECISA PENSAR COMO ELAS PENSAM, QUE TEM QUE SER ASSIM, TEM QUE SER ASSSADOOO!! E acabam sendo apenas levadas no calor do momento, alguns dos que dizem que você deve pensar e falar o que quiser, são os que não pensam antes de falar e assim os que pedem respeito, as vezes sem perceber, esquecem de respeitar o outro.
"Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores!"
Atenção a essa parte do discurso de Caetano, na visão dele, aquela mesma juventude que gritava contra a ditadura, gritava contra rebolado e as roupas de plástico. Ou seja, para Veloso, a hipocrisia desta juventude era tamanha ao ponto de um mesmo grupo de jovens lutar contra a ditadura repressiva e não aceitar a manifestação artistica de um intérprete da música popular brasileira.
Por isso acredito que, independente do que você defende, não seja intolerante, não grite com alguém porque o discurso dessa pessoa é contrário ao seu. Não o mande calar a boca porque a ideia que querem transmitir é diferente da sua. Vejo as pessoas fazendo muito barulho, não dando se quer a oportunidade do outro falar.
É isso, pessoal. E vocês já ouviram falar sobre o FIC? Qual a opinião de vocês sobre isso?
Fontes: (xxx)
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oi!
ResponderExcluirEu nunca tinha ouvido falar do FIC, mas nesta época de regime militar muitos artistas eram censurados ..
Eram si e muitos deles aproveitavam o FIC para fugir um pouco dessa censura, tanto que depois o evento foi encerrado justamente por isso...
ExcluirNão sabia desse evento que existia na época da ditadura, fiquei até um pouco surpreso, pois nessa época a televisão era proibida de passar vários programas, porque tudo era motivo de repreensão e as letras de música eram uma delas. Mas achei bem curioso o post que realizou, falando do evento e da dupla Cynara e Cybele.
ResponderExcluirNão tinha ciência desse fato na história da Música Popular brasileira, mas já amei rsrs. Naquela época a repressão era forte e acredito que as pessoas não sabiam ao certo como lutar, por isso a contradição entre o que diziam e o que faziam. No entanto, após anos de um conhecimento mais democrático e uma forma de governo não autoritário, as pessoas permanecem no erro não por ignorância ou falta de sabedoria, mas por arrogância. Querem fazer valer os seus pensamentos, querem que as outras pessoas engulam e não respeitam a singularidade do outro. São mesmo hipócritas. São cruéis. Acham-se donas da verdade, não passam de equivocadas. Não tem como lutar por liberdade de expressão e opinião se ao mesmo tempo calamos grosseiramente quem nos contesta. Respeito é a chave!
ResponderExcluirAbraços!
É exatamente isso, Amilton!
ExcluirNão sabia de nada disso. Tanta coisa aconteceu neh? A arte foi muito censurada na ditadura e eu até entendi o protesto do Caetano. Deve ter sido horrível esse momento p ele. Pessoas que parecia que pensavam igual e lutavam pelos mesmos ideais não respeitavam uma arte diferente.
ResponderExcluirJá ouvi falar destes festivais, teve um outro caso muito famoso com a Lucinha Lins se não me engano. Mas podemos ver que não é de hoje que as pessoas só conseguem ouvir as opiniões que são iguais as suas.
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar destes festivais, obrigada por compartilhar aprendi bastante!
ResponderExcluirPor nada, Edna. ^u^
ExcluirNossa, muito informativo o seu post. Várias coisas me suspreendeu sobre o FIC, mas a minha opinião continua: Caetano é demais. Talentoso, engajado e dono de palavras apropriadas.
ResponderExcluirDesconhecia o Fic , gostei de seu post , bastante informativo.
ResponderExcluirQue tri esse artigo, muito interessante, eu não conhecia o Fic, mas se fosse hoje, quem sabe eu não participasse com algumas músicas? Será?
ResponderExcluirCaetano foi vaiado bem merecido, ele é muito extravagante. Eu nunca fui fã de Caetano Veloso, Chico Buarque e Tom Jobim, não tem uma de suas músicas que me deixou convencido, nunca fez meu gênero. Bossa Nova são muito tocada no Japão, a música deles é bem sucedida aqui.
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